Titulo: 18 Dias
Autor: Matias Spektor
Editora: Objetiva
Sinopse:
“Quando Lula e FHC se uniram para conquistar o apoio de Bush”.
O livro é, na verdade, um resumo da agenda de transição do governo FH do PSDB para o Lula do PT, simbolicamente representada pela transmissão da primeira faixa presidencial em período pós ditadura e ironicamente para um governo oposicionista de esquerda e temido pela sociedade em geral, especialmente a classe dominante, pelo que podia representar em termos de ruptura política. Após pesquisa minuciosa e fartamente detalhada, ancorada em evidências e testemunhos dos principais atores do mundo diplomático brasileiro e americano o Matias Spektor, até então um jornalista praticamente desconhecido do grande público, pra mim inclusive, dá uma demonstração de competência extraordinária, reunindo o dia a dia dos eventos dos bastidores do que efetivamente ocorreu, no que podemos considerar um sucesso de realização, principalmente pelos resultados obtidos e a boa dose de detalhamento das interações diplomáticas do país no período que vai da eleição à posse do Lula. Os principais pontos de destaque estão relacionados ao fato do inesperado receio e desconhecimento de ambos, o governo Bush de direita, recém eleito e por outro lado um governante novo de esquerda que a principio, poderia levar toda uma América Latina para o que se chama o “eixo do mal” (social/comunista – antidemocrático) devido ao relacionamento umbilical entre Lula, Chaves e Fidel Castro. Essa divergência política, aliada à completa carência de contatos pelos petistas no mundo econômico e político dos Estados Unidos representaram o maior desafio da aproximação diplomática. Consciente da dificuldade, o governo FH se dispôs a contribuir para que o Brasil e seu novo governo não sofressem os males de uma inexistente ou escanteada relação bilateral BRASIL/EUA. Mesmo tendo posicionamento não muito alinhado e com sérias disputas internacionais em jogo, opondo na maioria das vezes o governo também em fase de transição Clinton/FHC o resultado foi extraordinário, diga-se de passagem, que o êxito foi em grande parte devido a competência, flexibilidade e sinceridade do Lula. Conquistando a simpatia do Bush em seu primeiro encontro, Lula se mostrou um democrático de carteirinha e queria a melhor das relações com a América do Norte, aliás, isso era absolutamente necessário, face a grave crise econômica à época. Disso resultou uma comunicação aberta e por diversas vezes superou os diversos entraves da diplomacia tradicional e seus asseclas. Durante bom tempo a diplomacia brasileira e seu governo de esquerda capitaneada pelo Celso Amorim, competente negociador, obteve sucesso até o ponto onde divergências sérias decorrentes de posicionamento político principalmente no oriente médio com o Lula, defendendo o governo do Iran, distanciou e praticamente congelou as relações bilaterais. Finalmente, recomendo fortemente a leitura dessa obra, afinal, uma aula de relações internacionais, assunto tremendamente enriquecedor de conhecimentos nas relações entre as nações e seus interesses políticos e comerciais.
Fernando Magalhães
Setembro/2014